Maruim: é possível acreditar

Rua General Siqueira (Foto: Keizer Santos)  
*Por Ermerson Porto

Neste ano de 2014 comemora-se os 160 anos de emancipação política de Maruim. O dia 05 de maio é uma data memorável para os filhos desta cidade. A oportunidade abre espaço para reflexões e debates a cerca do município que, localizado no Vale Cotinguiba, a aproximadamente 27 Km da capital sergipana, muito representa para a História de Sergipe.
É interessante observar que Maruim surge de um aglomerado de pessoas, provenientes de um local denominado Mombaça e passam a habitar as terras do Engenho Maruim de Baixo. Essas pessoas estão nas entrelinhas da história oficial e nem de longe sabiam que estavam fecundando um solo fértil, não apenas pelo massapê – este permitiu o plantio e cultivo da cana de açúcar na região – mas também porque por esse solo palmilharam pessoas que apostaram no novo.
Acreditando no novo foram instalados em Maruim oito consulados e a cidade possuía quinze grandes engenhos, dos quais podemos destacar o Engenho Pedras. A família Schramm deixou um forte legado influenciando a vida econômica, política, social e cultural da cidade. Observa-se a influência estrangeira como fator marcante na cidade. Segundo afirma a Professora Maria Lúcia Marques, e com razão, foi um empório em Sergipe, pois ali nasceu boa parte dos grupos empresarias do Estado.
Chega a impressionar a devoção ao sagrado pelos habitantes da cidade. Construída entre 1848 e 1862 pelo Barão João Gomes de Melo, a Igreja Matriz Nosso Senhor dos Passos, tornou-se um espaço de fé e cultura. Tenho por certo que a Igreja Matriz de Maruim tem um valor que excede o sagrado, é um patrimônio cultural. Reflete a historiografia da cidade e é um bem tombado pelo Governo do Estado de Sergipe. O monumento deve ser motivo de orgulho para toda a população.
Mas a vida religiosa do povo não termina por aí. O que dizer dos terreiros das mães de santo e rezadoras? Atuavam muitas vezes na clandestinidade, sempre presentes na vida do maruinense. A cidade também abriu os braços para a doutrina Espírita ao receber o Centro Espírita Maria Amélia Alves. Não foi diferente coma chegada dos protestantes. Os primeiros foram os batistas, se organizaram em 1926 com 24 membros e depois na década de 1950 os assembleianos, estes se estabeleceram a partir das pregações de uma mulher negra, Irmã Florência, que fazia seus sermões na feira livre do município.
A construção de um Gabinete de Leitura na cidade, em 19 de agosto de 1877, é emblemático. Demonstra ser um espaço de sociabilidade com um vasto capital cultural, não só para Maruim, mas de referência em Sergipe; tanto enquanto Província do Império, como Estado da Federação, haja vista a importância deste espaço em ocasião dos acalorados debates liberais republicanos.
Torna-se urgente aos que afirmam “amar Maruim” parar e repensar sobre o que tem sido feito em prol dessa cidade. Precisa-se abandonar as práticas políticas obsoletas que desaguam em coisas efêmeras e sem concretude, deixar de lado as diferenças, posições partidárias ou religiosas, a fim de que o ponto de convergência seja a liga que une e não o que afasta, pois, os anos vão-se indo e o que está patente aos nossos olhos é que pouco se avançou.
Nada disso, porém, pode esmorecer àqueles que acreditam no impossível. Acredito nessa cidade, acredito em meu povo. São pessoas como dona Maria Amélia, mãe da professora Valdenice, as professoras Sônia Maynart e Maria Santiago e tantos outros como aquele grupo de “mobaçeiros” das entrelinhas da história, me fazem refletir e apostar no novo e saber que sou brasileiro, sergipano, maruinense e não desisto nunca.
São mais de 160 anos de história. Quanto mais penso, falo e escrevo sobre Maruim, tanto mais fico apaixonado por ela. A paixão é um sentimento levado a um alto grau de intensidade e a cada dia que passa, esse sentimento se fortalece. Meu amor por esta cidade está fundamentado na certeza de acreditar na possibilidade do que muitos julgam ser impossível, pois, acredito na força do resgate da memória e também no desafio do novo, não em detrimento do passado, mas um novo que evoca suas raízes para poder escrever uma nova história.
                                                          
*Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe e Coordenador do Programa Mais Educação no Município de Maruim.

ermerson_16@hotmail.com

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