Minutos após o fechamento dos portões, foi divulgado pelo Ministério da Educação – MEC, o tão esperado tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, no último domingo, dia 25 de Outubro, segundo dia de provas.
Em tempos onde o Brasil é o sétimo país do mundo em índices de feminicídio e em que a Lei Maria da Penha esta prestes a completar dez anos, o ENEM traz para cerca de 7 milhões de estudantes postulantes a uma vaga no ensino superior a reflexão a cerca do tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. O tema gerou grande polêmica nas redes sociais, bem como as outras abordagens em suas questões em diferentes provas, desencadeando de maneira atualizada, temas políticos, econômicos, sociais, culturais e multiétnicos com precisão e competência.
Os diversos tipos de violência praticados contra a mulher são uma violação grave dos direitos humanos. Sejam as consequências sexuais, mentais ou físicas, impedem-nas de viver plenamente em sociedade. Trazer à tona assuntos como feminicídio, feminismo e liberdade, torna a prova do ENEM uma prova cidadã. Prova esta que surpreende apenas aqueles que espantam-se com um texto escrito em 1949 (a exemplo do texto citado na prova de ciências humanas, de Simone de Beauvoir) em pleno ano de 2015 e que não entendem o movimento feminista como instrumento da luta pela igualdade de gênero. Surpreende apenas aqueles que acreditam que discutir direitos das mulheres é “doutrinação ideológica”.
O Exame Nacional de Ensino Médio conseguiu deixar na boca do povo (e na ponta dos dedos) um tema fundamental e relevante. Buscando a seleção de jovens capazes de ler, de explanar, se posicionar. Já que o exame é a porta de entrada dos estudantes para as universidades, nada mais coerente que os mesmos possam ter a oportunidade de refletir sobre as questões de gênero e os diversos temários que as cercam. Para que essa juventude seja capaz de incorporar e disseminar o respeito as diversidades.
Após esse importante e libertário passo, é possível observar o quanto se faz imprescindível que temas como esse, sejam levados para o Ensino Médio. E para usar de mais ousadia, até mesmo para o ensino fundamental. Tornando efetiva a liberdade desde a escolha da cor do lápis das crianças nos anos primários aos debates sobre a sexualidade e suas expressões no ensino fundamental maior. Pois combater o machismo, o sexismo, a intolerância, a homofobia é uma necessidade real e urgente do Sistema Educacional Brasileiro. É de extrema importância que o ciclo de violência e opressão, gerados pelo conservadorismo e pelo sistema patriarcal, possa ser quebrado.
Citar Simone de Beauvoir, Paulo Freire, Agostinho Neto, Glória Evangelina Anzaldúa e Slavoj Zizek é, simbolicamente, retratar milhões de trabalhadoras e trabalhadores, negras e negros, que batalham pela vida digna , pagam com seu próprio sangue e suor e buscam uma sociedade mais igualitária em sua totalidade. É refletir a realidade palpável de seres humanos escravizados desde o nascimento por imposições limitadas e preconceituosas.
Ampliar o modo como é discutido as questões de gênero não é só uma tese da esquerda, muito menos uma questão de “doutrinação ideológica”. É fazer o contraponto ao pensamento dominante para a efetivação da democracia, para a legítima inclusão e pelos avanços na garantia de mais direitos.
Linei Pereira
Estudante de Geografia da Universidade Federal de Sergipe
Secretária Eleita da Juventude do PT de Sergipe
Compõe a corrente interna Articulação Unidade na Luta/CNB
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