ENTREVISTA DE DOMINGO: Norman Oliveira

Norman Oliveira (Crédito: Keizer Santos)
O portal inicia neste domingo uma série de entrevista. A primeira edição foi contemplada com o maruinense Norman Oliveira. Atual Secretário Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades do Governo Federal. Formado em Administração, pela antiga Faculdades Integradas Tiradentes, hoje, Universidade Tiradentes (Unit). Confira sua biografia completa aqui.


REDAÇÃO - Como foi sua infância em Maruim? 
NORMAN OLIVEIRA - Nasci em Maruim, no último ano da guerra, em 1944, filho de um alfaiate e de uma mulher das prendas de domésticas. Ela era uma grande batalhadora, pois ajudava na renda fazendo rede para pescar. Naquela época as redes não vendiam em lojas, e nós meninos, ajudávamos a nossa mãe a torcer os fios para depois fazer a malha para fazer a rede. Tinham épocas áureas e épocas difíceis, pois já naquele tempo a alfaiataria estava perdendo espaço. Aos poucos meu pai e minha mãe conseguiam atingir suas metas: Educar os filhos. Em Maruim, naquela época não tinha ginásio, apenas primário. Eram duas escolas primárias, uma pública e outra privada... Era o Grupo Escolar Padre Dantas e a escola da professora Rita. Morei em Maruim até os 12 anos de idade, pois fui estudar em Aracaju. Como nossa família não tinha muito recurso, e todos não podiam estudar na capital de uma só vez, saímos aos poucos. O primeiro foi Nilton, o mais velho, depois o Nardinho. Nilton fez o curso ginasial e o científico no Atheneu Sergipense, e ao mesmo tempo, fazia o curso de Contabilidade. Naquela época, ele trabalhava como professor no antigo seminário, onde hoje é o colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus. Nilton viajou a Bahia, onde prestou vestibular para Arquitetura. Foi aprovado, pois naquela época os colégios públicos eram considerados de excelência de ensino. Havia o jubilamento, que hoje se acha um absurdo. Quem reprovasse por dois anos seguidos, era “jubilado”. Quando eu tinha 10 anos, foi aberto o ginásio em Maruim. Fui aprovado no exame de admissão, sendo o 2º colocado. Estudei o 1º e o 2º ano em Maruim. Meu irmão começou a nos levar para Salvador, a fim de morar e estudar. Lá existiam oportunidades de trabalho. Já tinha levado o Nardinho, que estava fazendo o curso técnico no Rio de Janeiro, e Nazel. Depois, foi Naira e eu. Deixei Maruim, com 12 anos de idade, fui morar em Salvador. Estudei a 3ª série ginasial pelo dia e da 4ª serie em diante passei a estudar à noite para poder ir trabalhar. Comecei a trabalhar muito cedo. Mas, nesses 12 anos que convivi direto em Maruim, tive uma infância pobre, não miserável, mas era feliz. Tinha as amizades e naquela época não tinha essas tecnologias existentes hoje. A gente fabricava nossos brinquedos. Brincávamos de patinete, carrinho de rolimã, de furão, bola de marraia... Fiz grandes amigos em Maruim, entre eles Stênio Maynart, Tinuca, Anderson, toda a família Rêgo, Zé Augusto, Lisboa, que hoje é médico. Depois meu pai e minha mãe foram para Salvador e morreram lá. Sempre gostei de ir a Maruim, mesmo morando fora. Ficava hospedado na casa do Sr. Raul, já falecido, que sua filha casou com meu irmão Nazel. Sempre cultuei os amigos... E continuo com o coração em Maruim, pois adoro minha terra. Infelizmente hoje a cidade precisa de ajuda para recuperar os velhos tempos. Sabemos que não como aquele grande pólo comercial, que Maruim já foi, pois os tempos são outros, mas evidentemente, que se pode fazer muita coisa por maruim. 

REDAÇÃO – O senhor colou grau em Administração, aos 36 anos de idade, mas como foi sua vida acadêmica e profissional, de forma geral? 
NO - Sou formado em Administração, e como lhe falei, nós precisávamos trabalhar cedo e, também, casei muito cedo. Daí, em um período, abandonei o curso superior em Administração. Dos 10 irmãos, hoje somos 9, fui único a retornar ao Estado de Sergipe. Voltei a estudar e me formei na primeira turma de Administração da Faculdade Tiradentes, aos 36 anos de idade. Meu complemento profissional foi da própria vida, comecei trabalhar aos 13 anos de idade. Tive várias profissões. Fui desenhista profissional arquitetônico e cartográfico, profissão que não existe devido o surgimento do AutoCAD. 

REDAÇÃO – O senhor tem inspiração em alguma pessoa? Algum maruinense? 
NO - Na realidade minha grande inspiração são meus próprios pais e meus dois irmãos mais velhos. Da minha geração, em Maruim, todo mundo deu certo, pelo menos quem quis estudar um pouquinho. Das pessoas de Maruim posso indicar meu padrinho Zé Maia Cruz, Dr. Alcides Alves Pereira, Dr. Leitão, Cel. Gonçalo Rollemberg da Cruz Prado, Josias, da família Dantas... Família esta, que se dedicou muito a Maruim. Os espaços físicos existentes no município foram feitos pelos Dantas: o gabinete de leitura, o hospital, a entidade do bairro são José, a indústria de tecido, a própria indústria de Hanequim Dantas... Era uma família progressista! Da minha geração indico, também, o Hildegardes, que era de uma família, assim como eu, humilde. 

REDAÇÃO - O senhor é político e foi presidente do Partido Trabalhista Cristão (PTC), em Sergipe. O senhor pretende disputar um cargo eletivo? 
NO – Sempre fiz militância política, e naquela época, na minha juventude, aprendíamos a fazer política na escola. Os grêmios escolares e os diretórios, não eram partidários. Fazia-se política, exclusivamente, para a educação. Meu pai foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Muita gente que fazia política não precisa trabalhar, mas outra parcela precisa, e muito. O governador Seixas Dória ajudou a família do meu pai e quando cheguei aqui em Sergipe o procurei. Já era filiado ao MDB, depois PMDB. Sempre me intitulei como executivo político, nunca quis cargo eletivo. Acredito que minhas oportunidades já passaram. 

REDAÇÃO – Como maruinense, o senhor teve (ou ainda tem!) planos para disputar algum cargo no município de Maruim? 
NO – Para poucas pessoas eu disse isso na minha vida: Tive a oportunidade de ser prefeito de Maruim, “de graça”, como diz na gíria. Fui chamado pelo então governador Augusto Franco e ele disse que eu seria o candidato a prefeito da cidade, e era um desejo do Antônio Carlos, já falecido. Recusei, e até indiquei um grande maruinense, o jornalista Jurandir Santos, mas Dr. Augusto não aceitou. Posteriormente, tive a oportunidade de ser candidato a Deputado Estadual, com muita chance de vitória na época, mas não levei a diante. Nunca deixei de militar, diretamente, na política. Gostaria de ver um prefeito em Maruim, que pudesse se dedicar a cidade. 

REDAÇÃO – O que é a Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades? 
NO – Antes de falar sobre a Secretaria, faz-se necessário conhecer a estrutura do Ministério das Cidades. São 4 secretarias técnicas e uma secretaria executiva, esta presente em todos os Ministérios. Dentro do corpo ministerial estão presentes a Secretaria de Habitação; A Secretaria de Saneamento Básico; A Secretaria de Mobilidade Urbana e a Secretaria de Programas Urbanos, a qual dirijo. Nosso trabalho visa o treinamento de funcionários públicos; Financiamos e fiscalizamos os planos diretores com suporte técnico; Administramos a questão da regularização fundiária urbana; Além da prevenção das áreas de risco no Brasil. 

REDAÇÃO – O plano diretor passou a ser uma exigência por parte do Estatuto das Cidades para cidades com mais de 20 mil habitantes. Mas, Maruim, cidade com 16 mil habitantes, poderia pensar nesta modalidade? 
NO – As cidades foram obrigadas a fazer o plano diretor a partir dos 20 mil habitantes, de acordo com o Estatuto das Cidades. Existem muitos projetos, nós do Ministério, temos contribuído com muitas sugestões para o Estatuto. Foi um avanço muito grande a aprovação do Estatuto das Cidades. O Ministério, também, financia as cidades que desejarem elaborar o plano diretor, mesmo abaixo de 20 mil habitantes. Santo Amaro das Brotas, por exemplo, está elaborando o plano diretor com financiamento por parte do Ministério. Aqui em Sergipe, estamos em conversa, também, com o Governo do Estado para planejar e executar o plano diretor por região, em parceria com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (Sedurb). As negociações estão bem adiantadas e poderá beneficiar cerca de 20 cidades. 

REDAÇÃO – Maruim, Itaporanga D’ Ajuda, Laranjeiras, Riachuelo e Santo Amaro estão na Grande Aracaju, porém não têm acesso à integração dos transportes. Com a sua experiência à frente da presidência do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Município de Aracaju (Setransp), em 2002, o que deve ser feito para alcançarmos esse direito? 
NO – Grande Aracaju, Grande Salvador, Região metropolitana é tudo a mesma coisa, é só a nomenclatura que muda. Mas, a região metropolitana instituída por Lei, na Bahia, por exemplo, tem um consórcio público que gerencia. Neste caso administra todas as áreas, não só a questão transporte. É mais rentável para o Governo do Estado intervir nestas regiões. Sem uma legislação, não se pode cobrar dos prefeitos uma integração entre eles, como o caso do lixo, na grande discussão entre Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão. Aracaju é a única capital do Brasil, que não tem aterro sanitário. De certa maneira houve avanço, por exemplo, o transporte que é feito para Maruim, chamado de transporte suburbano, já conta com o cartão de vale transporte. Mas, como eu trabalhei no Setransp, o grande problema da tarifa em Sergipe é a meia passagem e a gratuidade. O gerenciamento do transporte é feito pelas empresas, e para que ela opere tem que ter lucro. À medida que diminui a gratuidade, diminui a tarifa. Os Carteiros têm direito à gratuidade, sendo os Correios, uma empresa altamente rentável. O Governo do Estado paga uma parte dos vales-transportes para os seus funcionários, mas para os policiais, não paga. E deveria pagar na mesma proporção que a empresa particular paga. A formação da tarifa é simples, a partir do Km percorrido por passageiro transportado. Quando se faz essa conta, o número de passageiro reduz, e o preço então fica alto, pois a gratuidade e meia-passagem são elevadas. 

REDAÇÃO – Mas existe alguma ação do governo para minimizar esta situação? 
NO - Algo já foi feito, aqui em Sergipe, existe redução de ICMS para empresa de transporte de passageiros. Mas, em geral, nem o empresariado do transporte, nem o povo, têm nenhum benefício. A criação de via expressa, corredores especiais, diminuição da gratuidade, dos os impostos são algumas das medidas que amenizariam essa situação no transporte público de passageiros. Em Aracaju, 5% da tarifa vão para a prefeitura. E os encargos financeiros são altos, como em toda empresa. 

REDAÇÃO – Qual a mensagem que o senhor deixa para seus conterrâneos maruinenses? 
NO – Sinceramente, sinto que a geração que veio posterior a minha não tiveram boas oportunidades. O ensino de excelência, hoje, é o da rede privada, diferente de outrora. Gostaria que esta geração e a próxima pudessem ter a mesma oportunidade que eu tive de estudar em um colégio público de qualidade. A pessoa de baixa renda que queira crescer deve estudar, apesar de ser clichê, mas todos os problemas no Brasil são por conta de uma má educação, pois a pessoa que é educada não joga lixo na rua. Por último, gostaria de desejar que Maruim desse uma guinada em suas administrações, pois uma boa administração deve-se pensar no hoje e no amanhã. Engana-se quem pensa que a grande administração é aquela que realiza calçamentos, ajuda a pintar as casas das pessoas, que ajuda a fazer a feira... A administração deve se preocupar com a macro-economia. Maruim não tem economia nenhuma, não tem emprego e município sem emprego não se desenvolve.

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4 Comentários

  1. Nelson Julio ( Duda PT)27 de novembro de 2011 às 11:21

    Adorei a entrevista Keizer,na verdade é para refletir! principalmente a mensagem dirigida a nós Maruinense...!!!

    Parabêns...!!!

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  2. Keizer, adorei a entrevista! Parabéns por este belo exercício do jornalismo!

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  3. Entendo que a entrevista foi bem feita. Éntretanto, tenho a dizer que infelizmente os filhos de Maruim que poderiam ajudar a cidade independente de posições políticas partidárias não o faz. Recordo-me que o Senhor Norman quando assumiu algumas pastas na administração estadual, não trouxe (pelo menos não lembro) algum benefício para nosso município. Agora está no Ministério das cidades, e espera-se que pelo menos interaja com os nossos administradores (independente de quem esteja de plantão), para pelo menos informar o que pode e o que não pode fazer pela nossa terra. Finalizo dizendo que a última aparição de Norman Oliveira em Maruim, foi na eleição de 1996 para prefeito, onde deu apoio ao candidato da situação ( Simizinho apoiado pelo médico evenor).

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  4. Norman é um Homem do Bem, toda sua Vida foi Trabalhar em Prol dos seus Amigos e em Benefício da sua Terra. Os Maruinenses, como Eu,se orgulham por te-lo como Amigo, este Ilustre Filho da Terra. O Amigo Norman é um Homem de Palavra e muito Correto!

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